segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012



A Televisão

            Mais do que uma tecnologia que transmite sons e imagens em movimento e que se presta principalmente ao entretenimento, sabemos que a televisão é parte constituidora da cultura presente no cotidiano de todos nós, e que tomamos o seu conteúdo como referência sobre a realidade.
            Entreter, informar, mobilizar pessoas e instituições são algumas atribuições que podemos identificar como características da televisão, e aí nos vem a questão central: educar é função da televisão? Também, mas, talvez, não só explicitamente por meio da programação identificada como educativa!
            Fala-se muito sobre as possíveis mazelas causadas nas famílias, sobretudo em crianças e adolescentes, decorrentes dos conteúdos inapropriados para a “boa” educação deles. Credita-se à televisão o poder e a culpa pelos transtornos nas relações humanas e, em particular, na dificuldade do educador em “ensinar” às crianças e aos adolescentes aquilo que se entende por conhecimento adequado e natural ao ambiente escolar formal.



Imagem: Mosqueta
            Entretanto, cabe aqui mais uma reflexão: o que a televisão ensina? A televisão é concorrente da escola? A sedução e a alienação do telespectador seriam fenômenos “naturais” e inevitáveis promovidos pela televisão? As respostas a estas questões não são tão simples e exigem muita pesquisa para entendermos melhor o fenômeno da recepção televisiva, sobretudo pelas crianças e jovens. Entretanto, percebemos que a televisão ensina muito, e não só a respeito de conteúdos, mas também sobre atitudes, valores etc., e que a televisão pode não ser uma concorrente da escola e sim uma parceira, a depender da atuação do educador. Neste contexto, ao lado da sedução praticada pela televisão, a mediação escolar permitiria a educação de telespectadores mais críticos e protagonistas quanto aos conteúdos da programação televisiva.

            Há vários estudos que explicam a gramática televisiva, os recursos próprios da linguagem audiovisual e a exploração de determinados conteúdos por este meio de comunicação como sendo um tipo de conhecimento a que poucos têm acesso de forma clara e consciente, restrito aos especialistas. Entretanto, percebe-se que a televisão colabora para a construção de uma “visão de mundo” e “educa” seus telespectadores sobre conteúdos abordados e para aspectos de sua gramática, de modo que estes se tornem inteligíveis.

Imagem: C. Alves
Os canais da televisão aberta, predominante no tempo cronológico e no espaço geográfico brasileiros, têm promovido entre seus telespectadores a formação de hábitos que constituem referência para, por exemplo, almoçar/jantar, dormir/não dormir, horários para determinadas atividades, enfim, é um meio de organizar a vida cotidiana. Por outro lado, gêneros televisivos foram se constituindo em modelos para uma postura do telespectador frente aos programas transmitidos como os talk shows, os famosos programas de auditório de domingo à tarde, telenovelas e seriados, telejornal e documentários, shows e, mais recentemente, os reality shows.
            Atualmente, nos centros urbanos brasileiros, a televisão paga (TV a cabo) tem promovido a especialização da produção/veiculação e do consumo de sua programação, como os canais de desenhos animados, os de jornalismo, os temáticos, de filmes, dentre outros. As novidades ocorrem não só no televisor, com telas planas, de plasma, mas também na forma como assistiremos à TV, pois a programação será organizada pelo telespectador conforme seus interesses, e será possível acessar a Internet diretamente a partir do conteúdo assistido para saber mais detalhes sobre determinado produto, personagem, ou fato. A TV do futuro já existe e está plenamente articulada com a Internet.



TV na era da Internet

            A TV via Internet, ou IPTV [Internet Protocol Television], é uma das maiores apostas. Segundo estudo do Instituto Gartner, até 2010, cerca de 48 milhões de casas em todo o mundo receberão sinais de TV pela Web. A Microsoft já oferece software que permite navegar por menus pela grade de programação e selecionar, por exemplo, a gravação de um determinado programa ou de todos os programas de uma série, semanalmente. O software também integra conteúdos do PC e do telefone – dá para ver fotos, ouvir músicas e até ler e-mails e mensagens SMS na tela da TV. Outro aspecto dessa integração da TV e da Web é a possibilidade de navegar pela Internet a partir do clique em imagens de comerciais que aparecem na TV, por exemplo, e ir direto para um site de vendas do produto anunciado; ou clicar em imagens de um determinado filme ou seriado e ser remetido a uma página contendo mais informações sobre aquele detalhe.
             Neste contexto, em que a televisão amplia sua participação no cotidiano de todos, os desafios para a sociedade em geral, e para a escola em particular, são gigantescos. Um exemplo disso foi o movimento encabeçado, entre 2005 e 2007, pelo Ministério da Justiça, que contou com a participação de instituições da sociedade para a reelaboração da classificação indicativa dos programas veiculados pelos canais da TV aberta, visando reordenar essa programação para que se tenha mais referências ao exercer a mediação necessária e adequada sobre o seu consumo pelas crianças e jovens.
            Em outra frente, organizações não-governamentais, institutos de ensino e pesquisa e autarquias municipais, estaduais e federais têm promovido ações que visam ampliar e aprofundar o conhecimento sobre aspectos da linguagem televisiva e de sua programação, sobre a produção audiovisual pelos diferentes agentes culturais, inclusive crianças e jovens, e desenvolver capacidades no telespectador que permitam a leitura crítica de seus conteúdos e o uso participativo de suas informações.
E aí voltamos a perguntar: o que a escola tem a ver com isso?


A TV e a Escola


Imagem: Lesley
            Percebemos que nem é preciso levar o televisor até a sala de aula para que a TV esteja presente na escola, pois a cultura televisiva surge em comentários entre alunos e professores sobre determinados programas e personagens. Algum desenho de preferência das crianças, um fato bom ou ruim destacado pelos telejornais, uma competição esportiva do momento e até mesmo cenas de um capítulo de novela são exemplos de como a programação televisiva apresenta-se em outros momentos que não somente naqueles em que se assiste a ela.
            Pensa-se também que esta cultura televisiva é inútil e que, até mesmo, chega a atrapalhar o bom andamento da aprendizagem escolar. Quando muito, ao se falar em TV na escola, pensa-se em programas “educativos”, no sentido mais tradicional do que se entende por este termo, desconsiderando-se que “educativo” pode ser tudo e qualquer coisa presente no meio social, inclusive na TV, a depender das relações que se estabeleçam com ela.
            Neste sentido é que a TV presente na escola passa necessariamente pela ampliação da consciência de todos – educadores e educandos – de que as informações disponíveis nos meios de comunicação fazem parte do processo de construção de conhecimentos, embora, na maioria das vezes, de forma inconsciente e até inconseqüente. Por isso, contemplar a programação televisiva para a pauta educativa das escolas requer alguns exercícios por parte dos educadores para que viabilizem processos de ensino e aprendizagem positivos.

FONTE: DISPONIVEL EM : http://www.educared.org/educa/index.cfm?pg=oassuntoe.interna&id_tema=19&id_subtema : Acesso: 02 DE FEVEREIRO DE 2012.

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